Em um aldeia remota, havia uma competição que ocorria a cada cinco anos. Basicamente, os melhores lenhadores da região competiam entre si para ver quem cortava mais árvores em um período de oito horas.
A competição não dava recompensas, mas fornecia ao campeão uma grande visibilidade e era comum os primeiros colocados receberem mais ofertas de trabalho posteriormente.
Eram sete competidores. Todos jovens, no começo da vida profissional, beirando os 22 anos. Mas havia um bem mais velho, com o dobro de idade destes.
Os competidores entreolhavam-se, e, com ar de certo desprezo pelo mais velho. Imaginavam que não era lugar de um homem daquela idade estar ali. Se colocavam no lugar do velho competidor imaginando que naquela idade já teriam suas próprias madeireiras. “Que fracassado !”, pensavam.
Ao sinal do início da prova, seis dos competidores correram para dar início aos trabalhos, exceto o mais velho, que permanecia sentado. De longe, a multidão achava que estava limpando seu machado.
“Pipocou !”, gritavam. “Não sabe usar o machado !”.
Após uma horas sentado e “limpando”( pois o povaréu tudo sabe…) seu machado, o competidor mais velho começou seu trabalho, com ímpeto e segurança, de maneira metódica.
Os outros competidores com o desenrolar da competição, se cansavam gradativamente, e ao final do dia sequer conseguiam ficar em pé. Estavam Exaustos. Será que trabalhariam assim pelo resto de suas vidas ? Aguentariam o ritmo ? O experiente lenhador, embora cansado, não aparentava ter o mesmo desgaste dos mais novos, mesmo com idade mais avançada.
É chegada a hora da contagem de árvores cortadas. Todos estavam ansiosos, e os competidores mais novos sequer olhavam para o lenhador mais velho, tamanho era o desdenho.
Após a apuração:
-Três tiveram entre 20 e 23 árvores cortadas.
-Dois tiveram entre 26 e 27.
-Um teve 30 árvores cortadas. Esse estava se sentindo o máximo naquele momento.
Quando foram contar as árvores do competidor mais velho…45!!
Todos ficaram perplexos ! “Como pode ?!”.
O lenhador que ficou em primeiro lugar, pediu a palavra e se apresentou:
-Pessoal , me chamo Fulanodetal, sou da aldeia vizinha, e trabalhei como lenhador na minha juventude. Há dez anos não trabalho mais nesta profissão.
–Na verdade eu ofereço treinamento para os mais novos. Em minhas aulas eu mostro como afiar o machado de maneira efetiva e rápida, como bater numa árvore de forma mais contundente e como escolher as árvores próprias para o corte. Não são todas que devemos cortar, pois algumas não servem para carpintaria. Devemos também observar a direção da queda da árvore para aproveitá-la, derrubando outras.
-Não só isso, eu indico novos lenhadores para outras aldeias, pois sou conhecido em vários lugares. Ofereço também um ótimo afiador de machado, desenvolvido por mim, que de tão simples e leve parece que estou até limpando o machado. E por fim, costumo selecionar e oferecer trabalho aos melhores lenhadores em minha madeireira, onde passam por meu treinamento.
O silêncio tomou conta.
O lenhador mais velho foi jovem um dia. Mas ainda em sua juventude percebeu que não seria lenhador para a vida toda. Outros mais novos surgiriam. Cobrariam mais barato. No auge da forma física, da juventude. E os mais velhos seriam descartados.
Não esperou ficar incapacitado fisicamente para deixar de ser lenhador. Fez a sua retirada estratégica da profissão. Se aperfeiçoou dia após dia, observando como se trabalha corretamente. Notou que não importa como os outros fazem. E sim que existe a maneira certa e errada de se trabalhar. E claro, está lucrando com isso de várias formas.
Agora, ele sai de aldeia em aldeia vendendo seus serviços, sendo respeitado e conhecido. E os outros competidores ? Trabalham para/com ele agora ;-).